Já alertei algumas vezes neste BLOG e no antigo (www.carrosemduvida.blogspot.com) sobre as ameaças que a indústria do petróleo enfrentaria com a chegada de novas tecnologias para a produção de energia (ou de movimento).
Carros elétricos já são comuns hoje na Europa, Japão e em alguns estados dos EUA (principalmente na Califórnia). No Brasil eles chegam timidamente, mas a recente redução dos impostos para os carros elétricos pode mudar este cenário.
A Toyota começou a comercializar seu primeiro carro a hidrogênio (veja também a reportagem em O GLOBO de hoje) nos EUA e no Japão. O Mirai, sedã de ar futurista, roda 100% a hidrogênio, abastecido em estações especiais (100 no Japão e 14 nos EUA) e gera sua própria energia, através da conversão do hidrogênio em eletricidade, num processo físico-químico que ocorre dentro de suas células de combustível*. Dependendo do uso, os 125 litros de hidrogênio liquefeito, podem gerar mais de 600 km de autonomia. O carro é caro, mas nos dois primeiros meses de venda nos EUA gerou demanda duas vezes maior que a esperada pela Toyota. Há fila de espera para pagar US$ 70 mil pelo carro (ele tem o porte do Toyota Camry movido a gasolina, e que custa menos da metade). Por lá há gente disposta a pagar o dobro para ter sua consciência ambiental mais leve.
Emissões? No Mirai, água morna é só o que sai do escapamento.
Vale lembrar que no Rio de Janeiro, táxis elétricos da Nissan (Leaf) já rodam na cidade. Também no Rio a Polícia Militar já usa alguns carros híbridos da Toyota (Prius), mas ainda é raro ver outros híbridos ou elétricos nas ruas. A ameaça, entretanto, é clara e perceptível para quem conhece a indústria do petróleo, bastando observar seus movimentos cíclicos desde longa data.
A queda do preço do barril do petróleo para menos um terço do que custou há poucos anos atrás é o sinal. O barril chegou a custar mais de US$ 120 e hoje pode ser comprado a US$ 35. Quem produz está ganhando menos. Quem produz em campos caros (como no pré-sal brasileiro) vê seus projetos inviabilizados economicamente. Quem tinha projetos de energias alternativas os vê ameaçados, pois fica mais barato gerar energia (ou movimento) queimando derivados de petróleo.
Esta é a constatação de que ameaça chegou de fato. Os produtores de petróleo (os da OPEP principalmente) decidem ganhar menos por um período determinado para inviabilizar projetos de energia alternativa, para depois voltarem a dominar o mercado e aumentar novamente o preço do barril. Basta observar a história, foi assim desde a crise do petróleo da década de 1970 (que no Brasil criou o bem sucedido Pró-Álcool).
O Pró-Álcool, aliás, é um bom exemplo. Foi criado quando o petróleo subiu vertiginosamente, e foi inviabilizado depois que passou a funcionar bem (técnica e economicamente), tendo sido atropelado com a drástica redução dos preços do petróleo.
Hoje estamos no momento em que os produtores (da OPEP) derrubaram os preços do petróleo buscando matar projetos que os ameaçavam (pré-sal no Brasil, shale-gas nos EUA, geração eólica na Europa e EUA, etanol no Brasil e EUA, bio-diesel em vários países, principalmente Alemanha, carros elétricos, etc). Com preços baixos para comprar combustíveis fósseis derivados de petróleo de campos convencionais, fica muito difícil optar por comprar um caríssimo bio-diesel alemão, por exemplo (onde há frotas inteiras usando 100% bio-diesel).
Entretanto, mesmo com estas ações predatórias dos grandes produtores, as tecnologias alternativas avançam, mostrando sua viabilidade técnica e, principalmente, ambiental. O viés ambiental, diga-se de passagem, é o que ainda mantém alguns projetos evoluindo e, na medida em que evoluem tecnicamente, podem se tornar economicamente ainda mais ameaçadores.
Para os países produtores que têm campos de baixo custo de produção, como os da Arábia Saudita, vender o barril a US$ 35 ainda é um grande negócio, já que seus custos de produção estão abaixo de US$ 15.
O restante da indústria do petróleo precisa se repensar, pois corre o risco de se inviabilizar no curto prazo.
- Células a combustível são equipamentos desenvolvidos pela indústria espacial e foram aplicados no projeto Apolo, da NASA, há muitos anos. Vem sendo adotados até hoje para gerar energia em espaçonaves. São adotadas também em centrais de informática, como fonte secundária de energia, dada a sua altíssima confiabilidade de geração de energia. Uma reação físico-química acontece quando o hidrogênio passa pelas placas especiais que constituem a alma das células a combustível.