Ontem o site automotivo AUTO ESPORTE, vinculado ao jornal “O GLOBO”, deu mais uma bola fora, do ponto de vista técnico. O título da matéria, publicada na sua aba MOBILIDADE, “Salvação dos carros a combustão? Porsche quer fabricar gasolina que não precisa de petróleo”.
A matéria conta que a Porsche fez uma parceria com uma empresa do Chile para produzir combustível líquido a partir de CO2 da atmosfera e hidrogênio retirado da água. O autor do artigo diz que a idéia é produzir um combustível que não seja dependente do petróleo e, portanto, menos poluente.
Para garantir a energia para o processo, serão usados aerogeradores, segundo o autor, a região onde a fabrica produzirá o combustível é bem atendida em intensidade de ventos.
Ele escreve: “São utilizados eletrolisadores, que conseguem “separar” a água em seus elementos básicos, hidrogênio e oxigênio. Após esse processo, há uma combinação com o CO², formando uma substância conhecida como metanol.
Esse metanol passará por um processo de melhoramento, sendo capaz de apresentar um rendimento até superior aos combustíveis tradicionais. Por conta de sua formação química, a queima do combustível é de baixa intensidade, sem a presença de componentes como o benzeno.”
Ai começam as bobagens, metanol é metanol, uma fórmula química definida em todo o mundo, portanto, não pode passar por “melhoramentos”, o que é possivel fazer é aditivá-lo, criando um combustível que não é mais apenas metanol.
Ele também escreve: “Outro ponto positivo é que esse composto pode ser distribuído em postos de combustível tradicionais, além de não exigir mudanças estruturais dos motores a combustão. Por outro lado, a tecnologia ainda é cara e depende de uma escala maior de produção para ficar mais acessível, enquanto o metanol em si é altamente tóxico para o humano.” Estes são pontos importantes, metanol dificilmente será distribuído em postos comuns, por ser altamente tóxico e cancerígeno, também tem um fator de risco, pois sua chama é quase invisível, podendo ser iniciado um incêndio sem que as pessoas percebam o perigo iminente.
Vale lembrar, o metanol é combustível de várias categorias de automobilismo de competição, como a Nascar e a Formula Indy. Portanto, seu uso em motores a combustão é completamente dominado. Não ganhou o grande mercado por conta dos riscos associados ao seu uso.
Também me parece improvável que alguma empresa invista em metanol, na forma como descrito na matéria, dado que a rota tecnológica do etanol, igualmente um combustível “limpo”, é dominada no Brasil desde os anos 1980 e em outros países mais recentemente.
Vale ainda lembrar, alguns laboratórios pelo mundo, como o da Inglaterra que foi tema de uma reportagem do Fantástico, já desenvolveram processos em escala laboratorial para gerar hidrocarbonetos “sintéticos”, a partir do CO2 existente no ar, gerando hidrocarbonetos líquidos (combustíveis) de molécula curta capazes de serem queimados em motores à combustão interna, produzidos sem uma gota de petróleo. Estes processos ainda são caros para ganharem escala industrial.